Por Que Isaac Newton Estudava Alquimia em Segredo?

Isaac Newton estudava alquimia em segredo. Contudo, sua trajetória intelectual não se limitava aos domínios da física e da matemática.
Newton dedicou uma parte considerável de sua vida ao estudo de disciplinas que, aos olhos contemporâneos, parecem antagônicas à razão científica: a alquimia e a teologia.
Essa dualidade instiga: como o homem que desvendou a gravidade pôde se imergir em práticas hoje consideradas pseudocientíficas?
A resposta reside na compreensão do contexto histórico do século XVII.
Naquele período, a linha entre ciência, filosofia e misticismo era tênue. Alquimistas não eram meros charlatães em busca de ouro.
Muitos eram intelectuais sérios, buscando entender a natureza da matéria.
Eles utilizavam métodos empíricos, observando transformações químicas e registrando seus achados. Para Newton, a alquimia não era uma fuga da ciência, mas uma extensão dela.
Ele via nos textos alquímicos um conhecimento profundo sobre a constituição do universo. Acreditava que, através da alquimia, poderia desvendar segredos da criação divina.
Seus manuscritos alquímicos, muitos deles criptografados, revelam um estudo meticuloso. Ele transcrevia e traduzia obras antigas, realizava experimentos e desenvolvia suas próprias teorias.
Esse vasto material permaneceu oculto por séculos. Somente no século XX, com a aquisição de seus papéis por John Maynard Keynes, a extensão de seus estudos alquímicos veio à tona.
Keynes, em uma palestra famosa, descreveu Newton não como o primeiro dos cientistas modernos, mas como “o último dos magos”.
Essa perspectiva, embora provocativa, ilumina a complexidade de Newton.
Ele era um homem de seu tempo, imerso em um ambiente intelectual onde o sagrado e o secular se entrelaçavam.
Sua busca pelo conhecimento era onívora, sem as compartimentações que hoje estabelecemos.
O Contexto Histórico da Alquimia
A alquimia, em sua essência, era uma proto-ciência, um precursor da química moderna. Seus praticantes buscavam a transmutação de metais comuns em ouro.
Mas também se dedicavam à busca da pedra filosofal e do elixir da vida. Esses objetivos, embora fantásticos, impulsionaram a experimentação.
Muitos alquimistas contribuíram inadvertidamente para o avanço do conhecimento químico. Eles isolaram substâncias, desenvolveram técnicas de destilação e criaram novos reagentes.
A alquimia era também uma disciplina esotérica, permeada por simbolismo e misticismo. Seus textos eram herméticos, repletos de alegorias e códigos.
Isso exigia dos leitores uma interpretação profunda e conhecimento prévio. Newton se dedicou a decifrar esses enigmas, buscando verdades ocultas.
Para ele, a criação divina era um livro aberto, mas cifrado. A alquimia e a teologia eram chaves para sua compreensão.
Ele acreditava que a matéria não era inerte, mas imbuída de forças ativas. Essa visão se alinhava com suas ideias sobre a gravidade.
A atração entre corpos, para Newton, era uma manifestação de forças ocultas. Essas forças poderiam ter uma base espiritual ou divina.
Assim, a alquimia não era um passatempo excêntrico. Era uma ferramenta para desvendar a ordem subjacente do universo.
Era uma busca por princípios unificadores, uma teoria de tudo. Sua obsessão era compreender a totalidade da criação.
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A Relação Entre Alquimia e Ciência Newtoniana
Ainda que pareça paradoxal, há conexões sutis entre os estudos alquímicos de Newton e suas descobertas científicas. A natureza da matéria era um ponto central para ambos.
Newton investigava as forças que agiam sobre os corpos celestes. Na alquimia, ele explorava as forças que atuavam sobre a matéria.
Por exemplo, sua concepção de “partículas ativas” na alquimia pode ter influenciado sua ideia de forças que agem à distância. A gravidade é um exemplo primário.
Ele tentava entender a coesão da matéria, por que as coisas se mantêm juntas. A alquimia oferecia um arcabouço para essa investigação.
Um exemplo interessante de sua busca alquímica é a ideia de um “espírito vital” que animaria a matéria. Isso não está muito distante de uma força universal.
Essa força, ainda que misteriosa, seria responsável pelas interações. Assim como a gravidade orquestra os corpos celestes.
Outro ponto de contato é o rigor metodológico. Embora a alquimia fosse mística, Newton aplicava a ela sua disciplina.
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Ele registrava seus experimentos com precisão, mesmo os mais bizarros. Isso demonstra sua busca por um conhecimento sistemático.
Seu trabalho alquímico era um laboratório para a mente. Ele testava hipóteses, observava resultados e tentava inferir princípios.
Não é um salto inconcebível ligar sua busca pela transmutação à sua visão de transformações cósmicas. A física celeste também envolve mudanças.
Tabela:
Disciplina | Foco Principal | Metodologia | Objetivo |
Física | Leis do movimento e gravidade | Observação, matemática, experimentação | Descrever o universo físico |
Alquimia | Transformação da matéria, busca do elixir | Experimentação, interpretação de textos, simbolismo | Compreender a essência da matéria e da criação |
A pesquisa da historiadora Betty Jo Teeter Dobbs, que dedicou sua vida aos estudos alquímicos de Newton, revelou a seriedade e a extensão de seu envolvimento.
Em “The Foundations of Newton’s Alchemy”, Dobbs demonstra como a alquimia era central para a cosmologia de Newton.

Por Que Isaac Newton estudava alquimia em segredo?
A questão que permanece é: por que Isaac Newton estudava alquimia em segredo? Havia várias razões para essa discrição.
Primeiramente, a alquimia era mal vista por muitas instituições da época. Era associada à fraude e à heresia.
A Igreja Anglicana, da qual Newton era membro proeminente, condenava muitas práticas alquímicas. Isso poderia comprometer sua reputação e posição.
Além disso, a alquimia era uma disciplina hermética. Seu conhecimento era transmitido em segredo, entre iniciados.
Era uma tradição oral e escrita, mas restrita. A divulgação pública era considerada uma violação.
Outro fator era a natureza de suas buscas. Newton não estava apenas interessado em fazer ouro.
Ele buscava verdades espirituais e teológicas por meio da alquimia. Essas investigações eram profundamente pessoais.
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Revelar esses estudos poderia expor Newton a críticas e ridículo. Especialmente por aqueles que não compartilhavam sua visão de mundo.
O ambiente intelectual da época era efervescente. Havia debates intensos sobre a natureza do conhecimento e da religião.
A reputação de Newton como cientista dependia de sua imagem de racionalidade. Seus interesses alquímicos poderiam manchá-la.
Pense, por exemplo, em um chef renomado que, em seu tempo livre, dedica-se secretamente a desvendar receitas antigas e misteriosas.
Não para servi-las em seu restaurante, mas para entender a própria essência do sabor e da transformação dos ingredientes.
Ele mantém esse hobby em segredo, pois poderia parecer, para o público, uma distração de sua culinária “séria”.
Da mesma forma, Isaac Newton estudava alquimia em segredo para preservar sua imagem pública como cientista.
O Legado de um Gênio Multifacetado
Compreender que Isaac Newton estudava alquimia em segredo nos ajuda a construir um retrato mais completo de sua genialidade. Ele não era um intelectual unidimensional.
Pelo contrário, sua mente era um caldeirão de ideias. A curiosidade insaciável o movia em todas as direções do conhecimento.
Sua dedicação à alquimia revela uma mente que não se contentava com respostas superficiais. Ele buscava a verdade em todas as suas formas.
Essa busca o levou a questionar, experimentar e teorizar. Seja sobre a queda de uma maçã ou a transmutação de metais.
Hoje, sabemos que a alquimia não é uma ciência no sentido moderno. Mas ela foi um catalisador para o pensamento científico.
E para Newton, foi uma via para a compreensão do universo. Uma via que ele trilhou com a mesma intensidade de seus estudos em física.
Cerca de 10% dos escritos de Newton, uma proporção significativa de sua obra total, são dedicados à alquimia e teologia, demonstrando a profundidade e a seriedade de seu envolvimento. Isso contrasta fortemente com a percepção popular de Newton como puramente um físico e matemático.
Sua história nos lembra que a jornada do conhecimento é complexa. Ela nem sempre segue caminhos lineares ou esperados.
É uma prova de que grandes mentes transcendem categorizações. E que a busca pela verdade pode nos levar a lugares inesperados.
Afinal, quem somos nós para julgar os caminhos que um gênio percorre em sua busca pela compreensão do cosmos? Isaac Newton estudava alquimia em segredo, e isso é apenas mais uma prova da imensa complexidade de sua mente.

Isaac Newton estudava alquimia em segredo: Figura Monumental
A figura de Isaac Newton é monumental na história da ciência. Sua dedicação secreta à alquimia, no entanto, adiciona camadas de complexidade e fascínio à sua biografia.
Longe de diminuir sua grandeza, essa revelação aprofunda nossa compreensão de um homem que via o universo como um enigma a ser desvendado em todas as suas facetas.
Sua mente brilhante não conhecia fronteiras entre o que hoje separamos em ciência, fé e misticismo, tornando-o um verdadeiro explorador do conhecimento em sua forma mais pura.
Dúvidas relevantes:
Por que a alquimia era considerada secreta?
A alquimia era frequentemente praticada em segredo devido à sua associação com práticas consideradas hereges ou fraudulentas pela Igreja e autoridades.
Além disso, muitos alquimistas acreditavam que o conhecimento era esotérico e deveria ser restrito a poucos iniciados.
Qual a relação entre a alquimia e a química moderna?
A alquimia é considerada uma precursora da química.
Embora seus objetivos fossem místicos, os alquimistas realizaram experimentos e desenvolveram técnicas e equipamentos (como destiladores e retortas) que foram fundamentais para o surgimento da química como ciência.
Os estudos alquímicos de Newton afetaram sua credibilidade científica?
Durante sua vida, o envolvimento de Newton com a alquimia era amplamente desconhecido. A revelação póstuma de seus manuscritos alquímicos gerou debate.
Mas não diminuiu sua reputação como um dos maiores cientistas da história, pois suas contribuições para a física e matemática são inegáveis e bem documentadas.
Newton realmente acreditava que poderia transformar metais em ouro?
Sim, é provável que Newton acreditasse na possibilidade da transmutação de metais. Essa era uma crença comum entre os alquimistas da época, e seus experimentos visavam, em parte, explorar essa possibilidade.
No entanto, sua busca era mais ampla, incluindo a compreensão da essência da matéria e as forças que a governam.
++ O lado B de Isaac Newton, um alquimista e um místico cristão